terça-feira, 7 de abril de 2015

O Equilibrio do ser humano

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O equilíbrio do ser humano nos dias atuais

Alta performance, resultados, habilidades, competências, novas tecnologias, participações em inúmeras redes sociais são palavras citadas com muita frequência e que estão provocando um certo "corre-corre" no cenário das organizações e um "alvoroço" interno nas pessoas, restando pouco tempo para olharem para dentro de si.
Com o intuito de acompanhar as mudanças exigidas, os profissionais iniciaram uma verdadeira "maratona" na busca pela informação, já que a aprendizagem é uma necessidade veemente e as pessoas não podem pensar que estão prontas e não há nada mais a aprender em suas vidas como um todo. Muito pelo contrário...
Senti a necessidade de escrever este artigo, devido ao número crescente de clientes de coaching que venho recebendo em meu Espaço Coaching, relatando estarem infelizes, angustiados e que fazem tanto, mas não percebem o resultado e quando alcançam, não sentem a plenitude da conquista ou, ainda, estão tão exaustos que não conseguem usufruir dos frutos semeados e, então, criam outra fonte de sofrimento por não conseguirem uma boa performance em algum segmento de suas vidas.
Neste momento, quero convidá-los a uma reflexão, onde questiono a maneira com que as pessoas estão encarando tais exigências, que se bem planejadas e canalizadas, são benéficas, ou seja, será que esses indivíduos, ávidos por conhecimento - e obviamente - desejando assumir posições mais elevadas em suas empresas, estão levando em consideração a quantas anda a sua qualidade de vida, o seu índice de felicidade interna em meio a tanta exigência?
Atualmente, as pessoas estão tão envolvidas com o seu dia a dia, em estarem "antenadas" com as mudanças do mercado, em serem "empregáveis", que nem se dão conta que estão deixando de cuidar de si, já que estabeleceram outras prioridades.
Não estou aqui dizendo que as pessoas não devam se preparar, longe disso. Minha intenção reside em promover uma reflexão profunda e crítica a respeito de identificar o seu limite pessoal, uma vez que é fundamental respeitar a si mesmo. E isto ocorre, somente, a partir do momento que você se conhece, sabe seus pontos fortes, suas fraquezas, seu potencial e aonde quer chegar, de que maneira e quando.
Tendo consciência disto, iniciar um trabalho de autodesenvolvimento, salientando a importância do equilíbrio e harmonia entre o físico, o mental e o espiritual, onde a união destas três dimensões fará com que o Ser Humano torne-se, verdadeiramente, um Ser Integral e Feliz.
O mundo está passando por um processo de transformação muito grande. Há uma necessidade real e relevante de aprender, de buscar e descobrir coisas novas e trocar ideias com o outro. No entanto, é, também de extrema importância, buscar o meio do caminho, o equilíbrio entre as ações. Invista, também, em momentos de amor, de desenvolvimento da criatividade, de prestar mais atenção à sua família, interagir mais com os amigos e fazer novos relacionamentos, cuidar de si e da saúde (física, mental e espiritual), fortalecendo-se para colher os frutos das sementes plantadas.
Isto significa que, somente canalizando seus esforços para um caminho mais interiorizado e autoconsciente, conseguirá promover o desenvolvimento pleno da pessoa e, consequentemente, sua Felicidade Interna estará preservada e atuante!

terça-feira, 24 de março de 2015

O tempo existe para todos, mas é fundamental saber administrá-lo!


A correria diária e a busca incansável para atender a novas demandas têm levado milhares de pessoas a se estressarem ao redor de um único fator: a falsa aparência de que o tempo foi reduzido. Ele continua do lá, do mesmo jeito que há dez anos. A questão em si é que as pessoas vivenciam uma nova realidade e precisam saber administrar bem as horas que possuem em torno da vida pessoal e profissional. Lógico que isso não é algo tão fácil de ser colocado em prática, porém não é impossível de realizar com maestria.
Foi para falar sobre a Gestão do Tempo que o RH.com.br entrevistou André Dametto, sócio-diretor da ALD Consultoria. Segundo ele, a falta de tempo tem sido considerada como o principal problema pelos gestores corporativos. Em uma recente pesquisa realizada pela Robert Half com mais de 1.500 diretores de Recursos Humanos, os brasileiros foram apontados como os profissionais mais estressados do mundo, principalmente em decorrência do excesso de trabalho. "Apesar do tema do Equilíbrio Pessoal e Profissional ser cada vez mais debatido nas empresas e na mídia, grande parte das pessoas ainda não consegue adotar mudanças práticas. As tecnologias, que em princípio serviriam para otimizar o uso do nosso tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das pessoas. Em 80% dos projetos de coaching que realizo, a grande queixa dos clientes é a pressão por um alto grau de exigência nos diversos campos da vida, sejam eles profissionais, acadêmicos ou pessoais", alerta o especialista.
Na entrevista concedida ao RH.com.br, André Dametto assinala como as pessoas podem elencar fatores para otimizar o tempo e, dessa forma, conviver bem com os "ponteiros do relógio". Aproveite bem o tempo que você dedica a está entrevista e tenha uma agradável leitura!

RH.com.br - As pessoas têm sido cada vez mais cobradas, notadamente no campo organizacional. O sentimento de que o tempo não é suficiente para realizar as atividades, ainda, é comum para a maioria dos profissionais?
André Dametto - Com certeza. Em dez anos atuando como coach e consultor de gestão, a falta de tempo é apontada como o principal problema pelos gestores. Em uma recente pesquisa realizada pela Robert Half com mais de 1.500 diretores de RH, os brasileiros foram apontados como os profissionais mais estressados do mundo, principalmente em decorrência do excesso de trabalho. Apesar do tema do "Equilíbrio Pessoal e Profissional' ser cada vez mais debatido nas empresas e na mídia, grande parte das pessoas ainda não consegue implementar mudanças práticas no seu dia a dia. As tecnologias, que em princípio serviriam para otimizar o uso do nosso tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das pessoas. Em 80% dos projetos de coaching que realizo, a grande queixa dos clientes é a pressão por um alto grau de exigência nos diversos campos da vida, sejam eles profissionais, acadêmicos ou pessoais. Até o lazer tem se tornado uma obrigação: lembro-me de muitos casos de pessoas que relataram precisar descansar após o período de férias, pois não conseguiram relaxar e permitir o ócio, tão necessário para o equilíbrio humano.

RH - Existe algum segredo para se administrar bem o tempo?
André Dametto - Mais do que um conjunto de dicas ou ferramentas para a priorização de tarefas, a Gestão do Tempo é antes de tudo um convite à reflexão sobre nossos valores e nosso propósito de vida. Nossos comportamentos no dia a dia são consequência da nossa personalidade - conhecimentos, atitudes, valores e inteligências predominantes. Dessa forma, problemas clássicos como estar sempre atrasado, não saber dizer não e ser perfeccionista em tudo são frutos de crenças, ou seja, programas mentais que nós mesmos criamos para balizar nossas decisões. É aí que efetivamente são promovidas as mudanças, a partir do entendimento das origens de possíveis autossabotadores e da posterior ressignificação dessas distorções cognitivas. Uma vez desenvolvidas novas crenças, é possível obter um comportamento mais assertivo na forma de lidar com o tempo, permitindo assim novas práticas como, por exemplo, saber delegar com efetividade, negociar melhores prazos e escopos com os interlocutores, e até mesmo não se punir tanto quando cometer eventuais erros. Uma dica para quem está buscando gerenciar melhor o seu tempo é ter em mente qual é o seu objetivo em cada contexto, e assim priorizar o que é importante e urgente. Quando não temos claro o nosso propósito, ficamos reféns dos objetivos dos outros, e tudo recai sobre nós sob a forma de urgências.
RH - Para quem administra bem a agenda, o tempo sobra?
André Dametto - Quando estamos fluindo em nossos talentos, a noção cartesiana de tempo dividido em minutos, horas e dias é ressignificada. Mesmo que consigamos fazer em menos tempo as tarefas que planejamos, esta "sobra" na verdade é percebida como uma oportunidade para inovar, seja melhorando a qualidade do serviço que estamos fazendo, ou mesmo descansar, mas de forma significativa. Não gosto da ideia de que precisamos dedicar apenas o que sobrar do nosso tempo para o lazer ou para "não fazer nada".

RH - Se por um lado temos quem precise de mais tempo, por vezes nos deparamos com outras pessoas que se tornam ociosas no ambiente de trabalho. Isso é sinal de que esses profissionais foram ágeis e souberam administrar bem o tempo?
André Dametto - Cada caso é um caso. O termo ociosidade é muito associado à preguiça, desleixo ou falta de atitude, mas existe o famoso ócio criativo, que é um tempo fundamental e tão importante quanto o da produção, pois nele descansamos, temos novas ideias e nos permitimos nos aproximar de nossos propósitos, vivendo uma vida que vale a pena ser vivida. Quem está engajado com o propósito do trabalho, mesmo tendo tempo livre, aproveitará o mesmo para desenvolver o pensamento criativo. Mas sim, haverá também muitas pessoas ociosas justamente por não estarem cientes do seu propósito. Recentemente, soube de um caso interessante em uma empresa pública: o funcionário, ciente de sua estabilidade, simplesmente dormia no ambiente de trabalho, e nada era feito. A meu ver, esse desligamento na verdade é um grande grito de socorro. Precisamos lembrar que reside em cada um de nós um ser humano, e podemos sempre investigar o que nos motiva, o que nos inspira. O ambiente organizacional precisa de uma verdadeira reobstetrícia: precisamos dar à luz os nossos talentos, e isso vale para qualquer idade, formação e setor organizacional.

RH -
Então, a ociosidade no ambiente de trabalho pode ser considerada um fator desmotivacional?
André Dametto - Nesses casos onde o profissional está fora do seu propósito sim. Mas repito, não podemos associar ociosidade à desengajamento. Em empresas inovadoras, como Google, por exemplo, há inclusive práticas de gestão que estimulam um tempo livre para o profissional criar o que lhe convier. É justamente nessa crença de que ociosidade é algo desmotivacional que reside a causa do excesso de trabalho e perfeccionismo que tanto prejudica muitos profissionais.

RH - Se o tempo do colaborador "sobra", cabe a ele ou ao líder encontrar atividades para evitar a ociosidade?
André Dametto - Antes de investir nesse combate à ociosidade, estimularia um projeto de diálogo entre líderes e colaboradores sobre o alinhamento dos seus propósitos individuais com o propósito da organização. Esse alinhamento é fundamental, para que o próprio colaborador seja o protagonista na gestão do seu tempo, equilibrando a priorização de ações que contribuam para a estratégia da empresa, mas que também nutram os seus talentos individuais. É nesse equilíbrio que carreiras e organizações inovam e crescem com sustentabilidade.

RH - Já que mencionamos a atuação do líder, que ações ele pode adotar para que a ociosidade não tome conta da sua equipe?
André Dametto -
Nas consultorias de construção de equipes de alto desempenho que eu conduzi nas organizações, costumo equilibrar quatro pilares: planejamento, papéis e responsabilidades, comunicação e celebração. Primeiramente é importante que todos estejam cientes da estratégia do negócio, se não soubermos o norte da organização inventaremos o nosso, imagine uma empresa com mil funcionários inventando mil nortes diferentes. Tendo claro o propósito, é fundamental que cada pessoa tenha clara a sua contribuição para esse norte, alinhada com seus talentos individuais. Posteriormente, deve haver comunicação e feedback constante, pois em ambientes complexos certamente haverá mudanças e elas precisar estar claras para todos. E no final, com o sucesso que certamente virá, é momento de celebrar. Apesar de todo o avanço de estudos sobre Psicologia Positiva, grande parte das organizações ainda são ambientes competitivos, agressivos e focados na crítica. Vamos valorizar mais o que está dando certo, a felicidade é contagiante.
RH - De que forma a liderança pode mensurar se o tempo de sua equipe está sendo bem empregado?
André Dametto - A base da gestão em qualquer empresa é ter claro suas metas, planos de ação e uma sistemática de medição dos indicadores. Quem construir os quatro pilares citados anteriormente, saberá quais são os papéis e as responsabilidades de cada membro da equipe, e os melhores desempenhos devem ser premiados, estimulando que bons comportamentos sejam incorporados pelo restante da equipe.
RH - Combater a ociosidade junto à equipe também passa por um trabalho comportamental?
André Dametto - Eu gosto muito do potencial do coaching para identificar as crenças individuais de cada membro da equipe. David Burns, em seu famoso livro Feeling Good, mapeou algumas crenças e rótulos que nos falamos constantemente, e que são as causas de comportamentos inadequados no dia a dia. A partir de agora, comece a se observar quando você falar frases do tipo: "Eu sempre, eu nunca, eu tenho que, eu sempre...". Em muitas generalizações como essa nos impedimos de negociar conosco mesmo e com as outras pessoas soluções criativas para gerenciar melhor as prioridades.
RH - Que recado o senhor daria para as pessoas que se tornaram ociosas, principalmente no ambiente de trabalho?
André Dametto - Muitas pessoas não imaginam, mas a ociosidade pode ser um fator tão estressante quanto o excesso de trabalho. A importância de se gerenciar o estresse é fazer com que o mesmo deixe de ser um desconforto, e assim evitemos que ele se transforme em casos críticos de ansiedade, depressão e burnout.
RH - Que lições podem ser colocadas em práticas, a partir dessas considerações?
André Dametto - Vamos a algumas lições aprendidas. Primeiro: identifique os primeiros sinais de que você está estressado, seja por excesso ou falta de trabalho. Isso varia de pessoa para pessoa, e o corpo possui diversos sinais de que algo não vai bem: dores de cabeça, dores musculares, resfriados, mãos frias, indigestão, dentre outros sintomas. O corpo sempre sussurra o que a mente não quer admitir. Segundo: mapeie as causas que estão levando você ao desequilíbrio. Dentre as principais, destacam-se: morte de ente querido, divórcio, mudança de residência, sentença de prisão, doença, casamento, perda do emprego, aposentadoria e até mesmo a reconciliação com o cônjuge. No trabalho, as principais causas de estresse advêm do assédio moral, tais como: colegas de trabalho inflexíveis, líderes estressados que não se gerenciam e destilam suas frustrações, ser criticado na frente dos colegas, sem contar as diversas reuniões desnecessárias e os habituais retrabalhos em ambientes sem gestão. Terceiro: saiba o que pode ser alterado por você e o que não pode. Analise o seu grau de autoridade em atuar sobre as causas do seu estresse, a perenidade de sua duração e a magnitude desse fator em relação aos diversos campos da sua vida. Muitas vezes, apenas somente essa análise já fará com que você sinta menos irritação. Quarto: pratique a assertividade, ou seja, a capacidade de fazer uma afirmação sobre algo, com segurança, e agir buscando uma negociação ganha-ganha com criatividade. Para desenvolver essa atitude, é fundamental que você esteja com a autoestima em dia, por isso o autoconhecimento, sempre ele, nunca é demais. Uma vez respeitando-se, busque sinceramente respeitar o outro, para então comunicar-se empaticamente com ele. Quinto e último: use âncoras de Gestão do Tempo, tais como: reconhecimento dos próprios talentos e valores, a priorização de tarefas, a formação de uma rede solidária que lhe apoie nos momentos críticos, e até mesmo planos de gerenciamento de crises para os casos mais críticos.
RH - E para aqueles profissionais que se desesperam, lutam contra o relógio para dar o melhor de si e mesmo assim apresentam uma performance abaixo do desejado?
André Dametto - Primeiramente eu recomendo buscarem a clareza sobre o seu próprio norte, ou seja, seu propósito de vida, e o alinhamento deste com o propósito da empresa. Eu diria que em mais da metade dos casos das pessoas com baixa performance essa é a causa do problema. Feito isso, identifiquem ações práticas e criativas para aproximar o seu trabalho dos seus talentos. Foque no desenvolvimento contínuo dos seus pontos fortes. Investir nos próprios talentos surte mais efeito que desenvolver seus pontos fracos. Investigue também que características ofuscam os seus talentos. Desenvolvê-las também pode ser uma estratégia inteligente. Todo erro é apenas uma tentativa de sucesso, e uma pequena mudança a cada dia pode facilitar todo o processo. Não são necessárias superações, mas sim um olhar mais carinhoso com nossos pontos fracos, usando as dificuldades como oportunidades de mudança. Nas adversidades residem grandes oportunidades. Como já dizia Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo", Viva seu talento, e do seu jeito, a fórmula quem cria é você.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Entrevista do RH com Marco Ornellas sobre

Não precisamos derrotar o outro para sermos vencedores!

Já foi dito milhares que vezes que quando se somam esforços, o homem tem uma capacidade surpreendente de superar obstáculos. Mas, isso só é possível quando ele encontra um par ou um ambiente propício à cooperação. E isso vale, inclusive, para as atividades que são desenvolvidas não somente no campo pessoal, mas também no ambiente corporativo.
De acordo com Marco Ornellas, consultor e psicólogo com especialização em comportamento, o fenômeno da competição não se dá no âmbito biológico, somente no contexto cultural. Em outras palavras, o homem é um ser que coopera em sua essência. "Na minha visão, as pessoas entendem e praticam a cooperação dentro de uma cultura patriarcal, que valoriza a competição e nega a cooperação. Isso significa que competimos ou cooperamos como uma escolha ou uma alternativa de ação. É como escolher algo que esta fora de nós para realizarmos e justificarmos nossas ações", assinala Ornellas, ao enfatizar que a cooperação precisa ser estimulada, disseminada e muito praticada dentro das organizações.
Marco Ornellas é um dos palestrantes da 3ª Jornada Virtual de Liderança - evento promovido pelo RH.com.br que acontece no período de 09 a 24 de outubro de 20014. Na oportunidade, o consultor ministrará a palestra em vídeo "Os Desafios da Liderança e da Gestão" Confira a entrevista na íntegra e veja quais os benefícios que a cooperação possibilita às empresas e, consequentemente, aos talentos organizacionais. Boa leitura!

RH.com.br - Como as pessoas percebem o sentido de cooperação, no ambiente organizacional?
Marco Ornellas - Antes de qualquer coisa, é importante conceituarmos de que lugar vamos discutir e falar de cooperação e competição. Nos últimos tempos tenho seguido e compartilhado os estudos de Humberto Maturana. Em meu mestrado em Biologia Cultural resignifiquei vários conceitos, dentre eles, o de cooperação e o de competição. Para Humberto Maturana a cooperação está na constituição do humano. O fenômeno da competição não se dá no âmbito biológico, somente no contexto cultural. Em outras palavras, somos seres que cooperam em sua essência. A cultura patriarcal vigente nos dias de hoje valoriza a competição e nega a colaboração. A competição implica em ganhadores e perdedores. Na competição tem um ganhador e outro que fracassa diante de nós. É desse lugar que quero falar sobre a cooperação - nas nossas organizações. Na minha visão, as pessoas entendem e praticam a cooperação dentro de uma cultura patriarcal, que valoriza a competição e nega a cooperação. Isso significa que competimos ou cooperamos como uma escolha ou uma alternativa de ação. É como escolher algo que esta fora de nós para realizarmos e justificarmos nossas ações. É fato que a cultura e o modelo de gestão não valorizam nada muito diferente. A competição ainda é a palavra de ordem das relações comerciais, dos modelos de negócios, e se constitui na base dos valores de muitas das nossas organizações, nesse sentido a pergunta é: "Como fazer diferente se o contexto nos empurra e espera comportamentos competitivos - ganhadores e perdedores?".
RH - A cooperação tem sido mais observada em determinados níveis hierárquicos ou surge em qualquer espaço da empresa?
Marco Ornellas - A cooperação assim como a competição está presente em toda a organização, não é opção ou comportamento de um ou outro nível hierárquico. Diferentes empresas podem, por vezes, criar nichos de cooperação, em algumas pode ser nos níveis operacionais, da produção ou técnicos. Em outras nos níveis gerenciais. A questão da cooperação ou da competição não se explica pelo nível hierárquico. É evidente que está na liderança o modelo e a disseminação de valores. Nesse sentido, por essência os níveis mais altos deveriam ser mais cooperativos, adotarem práticas mais colaborativas interna ou externamente, servindo assim de modelo, referência e direção de ação. É o mesmo que dizer, como educar uma criança para ser cooperativa e colaboradora se ela observa e encontra nos pais modelos competitivos - relações de ganha e perde. Sem sair do foco, podemos assistir exatamente isso, nos discursos, propagandas e programas eleitorais. Percebem-se mais tentativas de desqualificar o outro, de submeter o outro do que expor as próprias ideias. O meu ganho está na sua perda.
RH - Levando-se em consideração que a cooperação é fator relevante tanto para a empresa como também para os colaboradores, o ato de colaborar com os pares tem se manifestado com muita constância ou ainda precisa ser estimulado?
Marco Ornellas - A cooperação tem que ser estimulada, disseminada e muito praticada dentro das nossas organizações. No entanto, uma mudança do eixo cooperação - competição deve passar por outras mudanças mais estruturais. Não conseguiremos mais cooperação se o posicionamento de nossas empresas ainda valorizar a competição. Você já pensou no tamanho da dicotomia que temos que conviver, por exemplo - competir com o concorrente de forma assertiva e até agressiva e ter que cooperar com o colega de trabalho do lado? Cooperarmos com o nosso superior na busca de um melhor resultado para a área e nos relacionarmos de forma competitiva e pouco parceira com profissionais de outra área dentro da mesma empresa? Desculpe, mas é muita dicotomia, contradição. O nosso cérebro depois de um tempo não consegue mais discriminar quando devemos cooperar ou competir. Não me parece que a questão esteja na escolha deste ou daquele comportamento e sim do modelo mental. Na atividade de consultor o que mais tenho visto é competição dentro das empresas. Diretores que competem, áreas que competem, colegas que competem. A competição está instalada. Estou falando de competição no contexto de ganhadores e perdedores. Pense nisso! Ou criamos um modelo de gestão que valoriza a cooperação em todas as direções e os contextos ou nunca iremos, de fato, valorizar e mudar uma cultura. Cooperar, em minha opinião, é como confiança, ou se tem ou não se tem. Não existe meia confiança, como não existe meia cooperação.
RH - Em um ambiente em que a cooperação tornou-se uma rotina, podemos afirmar que essa já faz parte do DNA da cultura organizacional?
Marco Ornellas - Em minha opinião sim. Quanto mais praticamos e tornamos a cooperação uma rotina, um modo de pensar, sentir e agir, mais nos voltamos para nossa essência de seres humanos. Uma cultura colaborativa e cooperativa revela-se em todos os atos no dia a dia. Você já parou para pensar na produtividade, na criatividade, na qualidade de vida e de saúde física e emocional que um ambiente cooperativo e colaborativo traz? Não é mais possível imaginar inovação, criatividade, bem-estar, produtividade em ambientes com ausência de confiança e onde, o tempo todo, uns estão tentando ganhar sobre outros.
RH - O excesso de cooperação pode levar alguns profissionais à zona de conforto?
Marco Ornellas - Não. Cooperação e zona de conforto são conceitos diferentes e não relacionados. Cooperamos porque temos confiança em nós próprios e no outro. Confiamos porque acreditamos que o meu sucesso e a minha realização não precisam implicar necessariamente na derrota do outro. O modelo cooperativo tem como premissa eu ganho e você ganha. Será que não conseguimos pensar um modelo cooperativo nas relações comerciais? Nas relações internas? Nas relações sociais? Sim, acredito que sim. Já temos muitos sinais e evidências comprovadas de resultado e da efetividade desse modelo dentro das organizações.
RH - Até que ponto a cooperação deve ir? Existe um ponto limite?
Marco Ornellas - Essa é uma pergunta feita a partir da cultura patriarcal. Para uma cultura que nega a cooperação é fácil imaginar a prática da cooperação com limites e, muitas vezes, é percebida como um desvio ou mesmo um comportamento desejável apenas em um ou outro contexto. Eu entendo essa pergunta dessa forma: vivemos num mundo competitivo e colaboramos com algumas situações que nos parecem ser mais oportunas ou necessárias, quando na verdade é o contrário. Temos uma natureza cooperativa, não precisamos destruir o outro para vencermos. A cultura patriarcal se apropria; tem uma atitude exploradora e extrativista para com a terra e a natureza; a desconfiança é vista como um a priori nos relacionamentos interpessoais; desejo de domínio; a guerra e a competição predatória são encaradas como virtudes e modos naturais de sobrevivência. A complexidade, a conectividade e a heterogeneidade do mundo que vivemos requer mais participação; uma relação de convívio sustentável com a natureza; onde a confiança seja vista como a priori nos relacionamentos interpessoais; as relações de todo tipo sejam baseadas no modelo amizade-cooperação-companheirismo-consenso.
RH - Se por um lado encontramos a cooperação no ambiente de trabalho, por outro nos deparamos com a competição no dia a dia das empresas. Se bem dosada, ela também se torna benéfica às organizações. O senhor concorda?
Marco Ornellas - Do lugar que eu trago a discussão de cooperação, não é possível concordar com essa afirmação. Podemos e já provamos que conseguimos manter relações cooperativas e colaborativas dentro das organizações e nas interações das nossas empresas com o ambiente, o mercado. A questão não é dosar a competição ou a cooperação, como uma escolha de uma roupa que eu uso em um dia de frio ou de calor. A escolha da cooperação ou da competição não está fora de nós, está dentro de cada um. Nossa essência é a da cooperação, do convívio, da amizade, do companheirismo e do consenso. Não precisamos derrotar o outro para sermos vencedores. Podemos vencer, crescer, expandir, avançar, criar, produzir sem que o outro e a natureza tenham que perder. O modelo não deve ser o de apropriação e sim o de colaboração e convívio.
RH - Em que momento a competição entre os profissionais demonstra sinais claro de negatividade?
Marco Ornellas - Novamente é importante destacar, do lugar que estamos discutindo e conversando, sempre a competição será negativa, visto que a premissa é competição sempre implica em ganhadores e perdedores. Os sinais que o líder deve observar, acompanhar e investigar podem ser respostas a algumas dessas questões: "Sua equipe colabora, constrói junto e apresenta resultados superiores?"; "Os resultados da sua equipe são resultados com a participação de todos?"; "Há perdedores ou sentimento de perda no ambiente?"; "As pessoas confiam umas nas outras?"; "As relações são saudáveis, abertas e colaborativas?"; "As relações da sua equipe com outras equipes e com o mundo externo são saudáveis e colaborativas?";
"Há um sentimento de pertencimento?".
RH - Em sua opinião, quais os recursos mais eficazes para que os líderes acompanhem os "níveis" de cooperação e de competição entre suas equipes e, dessa forma, assegurem um clima organizacional saudável?
Marco Ornellas - Acredito que os líderes focam o mundo externo, analisam o cenário, inventam o futuro e esboçam caminhos para concretizá-los. Não falam e desejam, simplesmente fazem acontecer. Líderes criam visões de futuro e inspiram a nos movimentarmos nessa direção com confiança e convicção. Dessa forma o recurso mais eficaz para um líder aumentar os níveis de cooperação e diminuir a competição no ambiente organizacional é: praticar sua essência como ser humano e sua essência como um educador, líder e coach que é.