
A
correria diária e a busca incansável para atender a novas demandas têm
levado milhares de pessoas a se estressarem ao redor de um único fator: a
falsa aparência de que o tempo foi reduzido. Ele continua do lá, do
mesmo jeito que há dez anos. A questão em si é que as pessoas vivenciam
uma nova realidade e precisam saber administrar bem as horas que possuem
em torno da vida pessoal e profissional. Lógico que isso não é algo tão
fácil de ser colocado em prática, porém não é impossível de realizar
com maestria.
Foi para falar sobre a Gestão do Tempo que o RH.com.br
entrevistou André Dametto, sócio-diretor da ALD Consultoria. Segundo
ele, a falta de tempo tem sido considerada como o principal problema
pelos gestores corporativos. Em uma recente pesquisa realizada pela
Robert Half com mais de 1.500 diretores de Recursos Humanos, os
brasileiros foram apontados como os profissionais mais estressados do
mundo, principalmente em decorrência do excesso de trabalho. "Apesar do
tema do Equilíbrio Pessoal e Profissional ser cada vez mais debatido nas
empresas e na mídia, grande parte das pessoas ainda não consegue adotar
mudanças práticas. As tecnologias, que em princípio serviriam para
otimizar o uso do nosso tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das
pessoas. Em 80% dos projetos de coaching que realizo, a grande queixa
dos clientes é a pressão por um alto grau de exigência nos diversos
campos da vida, sejam eles profissionais, acadêmicos ou pessoais",
alerta o especialista.
Na entrevista concedida ao RH.com.br, André
Dametto assinala como as pessoas podem elencar fatores para otimizar o
tempo e, dessa forma, conviver bem com os "ponteiros do relógio".
Aproveite bem o tempo que você dedica a está entrevista e tenha uma
agradável leitura!
RH.com.br - As pessoas têm sido cada vez mais
cobradas, notadamente no campo organizacional. O sentimento de que o
tempo não é suficiente para realizar as atividades, ainda, é comum para a
maioria dos profissionais?
André Dametto - Com
certeza. Em dez anos atuando como coach e consultor de gestão, a falta
de tempo é apontada como o principal problema pelos gestores. Em uma
recente pesquisa realizada pela Robert Half com mais de 1.500 diretores
de RH, os brasileiros foram apontados como os profissionais mais
estressados do mundo, principalmente em decorrência do excesso de
trabalho. Apesar do tema do "Equilíbrio Pessoal e Profissional' ser cada
vez mais debatido nas empresas e na mídia, grande parte das pessoas
ainda não consegue implementar mudanças práticas no seu dia a dia. As
tecnologias, que em princípio serviriam para otimizar o uso do nosso
tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das pessoas. Em 80% dos
projetos de coaching que realizo, a grande queixa dos clientes é a
pressão por um alto grau de exigência nos diversos campos da vida, sejam
eles profissionais, acadêmicos ou pessoais. Até o lazer tem se tornado
uma obrigação: lembro-me de muitos casos de pessoas que relataram
precisar descansar após o período de férias, pois não conseguiram
relaxar e permitir o ócio, tão necessário para o equilíbrio humano.
RH - Existe algum segredo para se administrar bem o tempo?
André Dametto - Mais
do que um conjunto de dicas ou ferramentas para a priorização de
tarefas, a Gestão do Tempo é antes de tudo um convite à reflexão sobre
nossos valores e nosso propósito de vida. Nossos comportamentos no dia a
dia são consequência da nossa personalidade - conhecimentos, atitudes,
valores e inteligências predominantes. Dessa forma, problemas clássicos
como estar sempre atrasado, não saber dizer não e ser perfeccionista em
tudo são frutos de crenças, ou seja, programas mentais que nós mesmos
criamos para balizar nossas decisões. É aí que efetivamente são
promovidas as mudanças, a partir do entendimento das origens de
possíveis autossabotadores e da posterior ressignificação dessas
distorções cognitivas. Uma vez desenvolvidas novas crenças, é possível
obter um comportamento mais assertivo na forma de lidar com o tempo,
permitindo assim novas práticas como, por exemplo, saber delegar com
efetividade, negociar melhores prazos e escopos com os interlocutores, e
até mesmo não se punir tanto quando cometer eventuais erros. Uma dica
para quem está buscando gerenciar melhor o seu tempo é ter em mente qual
é o seu objetivo em cada contexto, e assim priorizar o que é importante
e urgente. Quando não temos claro o nosso propósito, ficamos reféns dos
objetivos dos outros, e tudo recai sobre nós sob a forma de urgências.
RH - Para quem administra bem a agenda, o tempo sobra?
André Dametto -
Quando estamos fluindo em nossos talentos, a noção cartesiana de tempo
dividido em minutos, horas e dias é ressignificada. Mesmo que consigamos
fazer em menos tempo as tarefas que planejamos, esta "sobra" na verdade
é percebida como uma oportunidade para inovar, seja melhorando a
qualidade do serviço que estamos fazendo, ou mesmo descansar, mas de
forma significativa. Não gosto da ideia de que precisamos dedicar apenas
o que sobrar do nosso tempo para o lazer ou para "não fazer nada".
RH - Se
por um lado temos quem precise de mais tempo, por vezes nos deparamos
com outras pessoas que se tornam ociosas no ambiente de trabalho. Isso é
sinal de que esses profissionais foram ágeis e souberam administrar bem
o tempo?
André Dametto - Cada caso é um caso. O
termo ociosidade é muito associado à preguiça, desleixo ou falta de
atitude, mas existe o famoso ócio criativo, que é um tempo fundamental e
tão importante quanto o da produção, pois nele descansamos, temos novas
ideias e nos permitimos nos aproximar de nossos propósitos, vivendo uma
vida que vale a pena ser vivida. Quem está engajado com o propósito do
trabalho, mesmo tendo tempo livre, aproveitará o mesmo para desenvolver o
pensamento criativo. Mas sim, haverá também muitas pessoas ociosas
justamente por não estarem cientes do seu propósito. Recentemente, soube
de um caso interessante em uma empresa pública: o funcionário, ciente
de sua estabilidade, simplesmente dormia no ambiente de trabalho, e nada
era feito. A meu ver, esse desligamento na verdade é um grande grito de
socorro. Precisamos lembrar que reside em cada um de nós um ser humano,
e podemos sempre investigar o que nos motiva, o que nos inspira. O
ambiente organizacional precisa de uma verdadeira reobstetrícia:
precisamos dar à luz os nossos talentos, e isso vale para qualquer
idade, formação e setor organizacional.
RH - Então, a ociosidade no ambiente de trabalho pode ser considerada um fator desmotivacional?
André Dametto -
Nesses casos onde o profissional está fora do seu propósito sim. Mas
repito, não podemos associar ociosidade à desengajamento. Em empresas
inovadoras, como Google, por exemplo, há inclusive práticas de gestão
que estimulam um tempo livre para o profissional criar o que lhe
convier. É justamente nessa crença de que ociosidade é algo
desmotivacional que reside a causa do excesso de trabalho e
perfeccionismo que tanto prejudica muitos profissionais.
RH - Se o tempo do colaborador "sobra", cabe a ele ou ao líder encontrar atividades para evitar a ociosidade?
André Dametto -
Antes de investir nesse combate à ociosidade, estimularia um projeto de
diálogo entre líderes e colaboradores sobre o alinhamento dos seus
propósitos individuais com o propósito da organização. Esse alinhamento é
fundamental, para que o próprio colaborador seja o protagonista na
gestão do seu tempo, equilibrando a priorização de ações que contribuam
para a estratégia da empresa, mas que também nutram os seus talentos
individuais. É nesse equilíbrio que carreiras e organizações inovam e
crescem com sustentabilidade.
RH - Já que mencionamos a atuação do líder, que ações ele pode adotar para que a ociosidade não tome conta da sua equipe?
André Dametto - Nas
consultorias de construção de equipes de alto desempenho que eu conduzi
nas organizações, costumo equilibrar quatro pilares: planejamento,
papéis e responsabilidades, comunicação e celebração. Primeiramente é
importante que todos estejam cientes da estratégia do negócio, se não
soubermos o norte da organização inventaremos o nosso, imagine uma
empresa com mil funcionários inventando mil nortes diferentes. Tendo
claro o propósito, é fundamental que cada pessoa tenha clara a sua
contribuição para esse norte, alinhada com seus talentos individuais.
Posteriormente, deve haver comunicação e feedback constante, pois em
ambientes complexos certamente haverá mudanças e elas precisar estar
claras para todos. E no final, com o sucesso que certamente virá, é
momento de celebrar. Apesar de todo o avanço de estudos sobre Psicologia
Positiva, grande parte das organizações ainda são ambientes
competitivos, agressivos e focados na crítica. Vamos valorizar mais o
que está dando certo, a felicidade é contagiante.
RH - De que forma a liderança pode mensurar se o tempo de sua equipe está sendo bem empregado?
André Dametto - A
base da gestão em qualquer empresa é ter claro suas metas, planos de
ação e uma sistemática de medição dos indicadores. Quem construir os
quatro pilares citados anteriormente, saberá quais são os papéis e as
responsabilidades de cada membro da equipe, e os melhores desempenhos
devem ser premiados, estimulando que bons comportamentos sejam
incorporados pelo restante da equipe.
RH - Combater a ociosidade junto à equipe também passa por um trabalho comportamental?
André Dametto - Eu
gosto muito do potencial do coaching para identificar as crenças
individuais de cada membro da equipe. David Burns, em seu famoso livro
Feeling Good, mapeou algumas crenças e rótulos que nos falamos
constantemente, e que são as causas de comportamentos inadequados no dia
a dia. A partir de agora, comece a se observar quando você falar frases
do tipo: "Eu sempre, eu nunca, eu tenho que, eu sempre...". Em muitas
generalizações como essa nos impedimos de negociar conosco mesmo e com
as outras pessoas soluções criativas para gerenciar melhor as
prioridades.
RH - Que recado o senhor daria para as pessoas que se tornaram ociosas, principalmente no ambiente de trabalho?
André Dametto -
Muitas pessoas não imaginam, mas a ociosidade pode ser um fator tão
estressante quanto o excesso de trabalho. A importância de se gerenciar o
estresse é fazer com que o mesmo deixe de ser um desconforto, e assim
evitemos que ele se transforme em casos críticos de ansiedade, depressão
e burnout.
RH - Que lições podem ser colocadas em práticas, a partir dessas considerações?
André Dametto - Vamos
a algumas lições aprendidas. Primeiro: identifique os primeiros sinais
de que você está estressado, seja por excesso ou falta de trabalho. Isso
varia de pessoa para pessoa, e o corpo possui diversos sinais de que
algo não vai bem: dores de cabeça, dores musculares, resfriados, mãos
frias, indigestão, dentre outros sintomas. O corpo sempre sussurra o que
a mente não quer admitir. Segundo: mapeie as causas que estão levando
você ao desequilíbrio. Dentre as principais, destacam-se: morte de ente
querido, divórcio, mudança de residência, sentença de prisão, doença,
casamento, perda do emprego, aposentadoria e até mesmo a reconciliação
com o cônjuge. No trabalho, as principais causas de estresse advêm do
assédio moral, tais como: colegas de trabalho inflexíveis, líderes
estressados que não se gerenciam e destilam suas frustrações, ser
criticado na frente dos colegas, sem contar as diversas reuniões
desnecessárias e os habituais retrabalhos em ambientes sem gestão.
Terceiro: saiba o que pode ser alterado por você e o que não pode.
Analise o seu grau de autoridade em atuar sobre as causas do seu
estresse, a perenidade de sua duração e a magnitude desse fator em
relação aos diversos campos da sua vida. Muitas vezes, apenas somente
essa análise já fará com que você sinta menos irritação. Quarto:
pratique a assertividade, ou seja, a capacidade de fazer uma afirmação
sobre algo, com segurança, e agir buscando uma negociação ganha-ganha
com criatividade. Para desenvolver essa atitude, é fundamental que você
esteja com a autoestima em dia, por isso o autoconhecimento, sempre ele,
nunca é demais. Uma vez respeitando-se, busque sinceramente respeitar o
outro, para então comunicar-se empaticamente com ele. Quinto e último:
use âncoras de Gestão do Tempo, tais como: reconhecimento dos próprios
talentos e valores, a priorização de tarefas, a formação de uma rede
solidária que lhe apoie nos momentos críticos, e até mesmo planos de
gerenciamento de crises para os casos mais críticos.
RH - E para aqueles profissionais que se desesperam,
lutam contra o relógio para dar o melhor de si e mesmo assim apresentam
uma performance abaixo do desejado?
André Dametto -
Primeiramente eu recomendo buscarem a clareza sobre o seu próprio
norte, ou seja, seu propósito de vida, e o alinhamento deste com o
propósito da empresa. Eu diria que em mais da metade dos casos das
pessoas com baixa performance essa é a causa do problema. Feito isso,
identifiquem ações práticas e criativas para aproximar o seu trabalho
dos seus talentos. Foque no desenvolvimento contínuo dos seus pontos
fortes. Investir nos próprios talentos surte mais efeito que desenvolver
seus pontos fracos. Investigue também que características ofuscam os
seus talentos. Desenvolvê-las também pode ser uma estratégia
inteligente. Todo erro é apenas uma tentativa de sucesso, e uma pequena
mudança a cada dia pode facilitar todo o processo. Não são necessárias
superações, mas sim um olhar mais carinhoso com nossos pontos fracos,
usando as dificuldades como oportunidades de mudança. Nas adversidades
residem grandes oportunidades. Como já dizia Gandhi: "Seja a mudança que
você quer ver no mundo", Viva seu talento, e do seu jeito, a fórmula
quem cria é você.