terça-feira, 24 de março de 2015

O tempo existe para todos, mas é fundamental saber administrá-lo!


A correria diária e a busca incansável para atender a novas demandas têm levado milhares de pessoas a se estressarem ao redor de um único fator: a falsa aparência de que o tempo foi reduzido. Ele continua do lá, do mesmo jeito que há dez anos. A questão em si é que as pessoas vivenciam uma nova realidade e precisam saber administrar bem as horas que possuem em torno da vida pessoal e profissional. Lógico que isso não é algo tão fácil de ser colocado em prática, porém não é impossível de realizar com maestria.
Foi para falar sobre a Gestão do Tempo que o RH.com.br entrevistou André Dametto, sócio-diretor da ALD Consultoria. Segundo ele, a falta de tempo tem sido considerada como o principal problema pelos gestores corporativos. Em uma recente pesquisa realizada pela Robert Half com mais de 1.500 diretores de Recursos Humanos, os brasileiros foram apontados como os profissionais mais estressados do mundo, principalmente em decorrência do excesso de trabalho. "Apesar do tema do Equilíbrio Pessoal e Profissional ser cada vez mais debatido nas empresas e na mídia, grande parte das pessoas ainda não consegue adotar mudanças práticas. As tecnologias, que em princípio serviriam para otimizar o uso do nosso tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das pessoas. Em 80% dos projetos de coaching que realizo, a grande queixa dos clientes é a pressão por um alto grau de exigência nos diversos campos da vida, sejam eles profissionais, acadêmicos ou pessoais", alerta o especialista.
Na entrevista concedida ao RH.com.br, André Dametto assinala como as pessoas podem elencar fatores para otimizar o tempo e, dessa forma, conviver bem com os "ponteiros do relógio". Aproveite bem o tempo que você dedica a está entrevista e tenha uma agradável leitura!

RH.com.br - As pessoas têm sido cada vez mais cobradas, notadamente no campo organizacional. O sentimento de que o tempo não é suficiente para realizar as atividades, ainda, é comum para a maioria dos profissionais?
André Dametto - Com certeza. Em dez anos atuando como coach e consultor de gestão, a falta de tempo é apontada como o principal problema pelos gestores. Em uma recente pesquisa realizada pela Robert Half com mais de 1.500 diretores de RH, os brasileiros foram apontados como os profissionais mais estressados do mundo, principalmente em decorrência do excesso de trabalho. Apesar do tema do "Equilíbrio Pessoal e Profissional' ser cada vez mais debatido nas empresas e na mídia, grande parte das pessoas ainda não consegue implementar mudanças práticas no seu dia a dia. As tecnologias, que em princípio serviriam para otimizar o uso do nosso tempo, na verdade, só aumentaram a prontidão das pessoas. Em 80% dos projetos de coaching que realizo, a grande queixa dos clientes é a pressão por um alto grau de exigência nos diversos campos da vida, sejam eles profissionais, acadêmicos ou pessoais. Até o lazer tem se tornado uma obrigação: lembro-me de muitos casos de pessoas que relataram precisar descansar após o período de férias, pois não conseguiram relaxar e permitir o ócio, tão necessário para o equilíbrio humano.

RH - Existe algum segredo para se administrar bem o tempo?
André Dametto - Mais do que um conjunto de dicas ou ferramentas para a priorização de tarefas, a Gestão do Tempo é antes de tudo um convite à reflexão sobre nossos valores e nosso propósito de vida. Nossos comportamentos no dia a dia são consequência da nossa personalidade - conhecimentos, atitudes, valores e inteligências predominantes. Dessa forma, problemas clássicos como estar sempre atrasado, não saber dizer não e ser perfeccionista em tudo são frutos de crenças, ou seja, programas mentais que nós mesmos criamos para balizar nossas decisões. É aí que efetivamente são promovidas as mudanças, a partir do entendimento das origens de possíveis autossabotadores e da posterior ressignificação dessas distorções cognitivas. Uma vez desenvolvidas novas crenças, é possível obter um comportamento mais assertivo na forma de lidar com o tempo, permitindo assim novas práticas como, por exemplo, saber delegar com efetividade, negociar melhores prazos e escopos com os interlocutores, e até mesmo não se punir tanto quando cometer eventuais erros. Uma dica para quem está buscando gerenciar melhor o seu tempo é ter em mente qual é o seu objetivo em cada contexto, e assim priorizar o que é importante e urgente. Quando não temos claro o nosso propósito, ficamos reféns dos objetivos dos outros, e tudo recai sobre nós sob a forma de urgências.
RH - Para quem administra bem a agenda, o tempo sobra?
André Dametto - Quando estamos fluindo em nossos talentos, a noção cartesiana de tempo dividido em minutos, horas e dias é ressignificada. Mesmo que consigamos fazer em menos tempo as tarefas que planejamos, esta "sobra" na verdade é percebida como uma oportunidade para inovar, seja melhorando a qualidade do serviço que estamos fazendo, ou mesmo descansar, mas de forma significativa. Não gosto da ideia de que precisamos dedicar apenas o que sobrar do nosso tempo para o lazer ou para "não fazer nada".

RH - Se por um lado temos quem precise de mais tempo, por vezes nos deparamos com outras pessoas que se tornam ociosas no ambiente de trabalho. Isso é sinal de que esses profissionais foram ágeis e souberam administrar bem o tempo?
André Dametto - Cada caso é um caso. O termo ociosidade é muito associado à preguiça, desleixo ou falta de atitude, mas existe o famoso ócio criativo, que é um tempo fundamental e tão importante quanto o da produção, pois nele descansamos, temos novas ideias e nos permitimos nos aproximar de nossos propósitos, vivendo uma vida que vale a pena ser vivida. Quem está engajado com o propósito do trabalho, mesmo tendo tempo livre, aproveitará o mesmo para desenvolver o pensamento criativo. Mas sim, haverá também muitas pessoas ociosas justamente por não estarem cientes do seu propósito. Recentemente, soube de um caso interessante em uma empresa pública: o funcionário, ciente de sua estabilidade, simplesmente dormia no ambiente de trabalho, e nada era feito. A meu ver, esse desligamento na verdade é um grande grito de socorro. Precisamos lembrar que reside em cada um de nós um ser humano, e podemos sempre investigar o que nos motiva, o que nos inspira. O ambiente organizacional precisa de uma verdadeira reobstetrícia: precisamos dar à luz os nossos talentos, e isso vale para qualquer idade, formação e setor organizacional.

RH -
Então, a ociosidade no ambiente de trabalho pode ser considerada um fator desmotivacional?
André Dametto - Nesses casos onde o profissional está fora do seu propósito sim. Mas repito, não podemos associar ociosidade à desengajamento. Em empresas inovadoras, como Google, por exemplo, há inclusive práticas de gestão que estimulam um tempo livre para o profissional criar o que lhe convier. É justamente nessa crença de que ociosidade é algo desmotivacional que reside a causa do excesso de trabalho e perfeccionismo que tanto prejudica muitos profissionais.

RH - Se o tempo do colaborador "sobra", cabe a ele ou ao líder encontrar atividades para evitar a ociosidade?
André Dametto - Antes de investir nesse combate à ociosidade, estimularia um projeto de diálogo entre líderes e colaboradores sobre o alinhamento dos seus propósitos individuais com o propósito da organização. Esse alinhamento é fundamental, para que o próprio colaborador seja o protagonista na gestão do seu tempo, equilibrando a priorização de ações que contribuam para a estratégia da empresa, mas que também nutram os seus talentos individuais. É nesse equilíbrio que carreiras e organizações inovam e crescem com sustentabilidade.

RH - Já que mencionamos a atuação do líder, que ações ele pode adotar para que a ociosidade não tome conta da sua equipe?
André Dametto -
Nas consultorias de construção de equipes de alto desempenho que eu conduzi nas organizações, costumo equilibrar quatro pilares: planejamento, papéis e responsabilidades, comunicação e celebração. Primeiramente é importante que todos estejam cientes da estratégia do negócio, se não soubermos o norte da organização inventaremos o nosso, imagine uma empresa com mil funcionários inventando mil nortes diferentes. Tendo claro o propósito, é fundamental que cada pessoa tenha clara a sua contribuição para esse norte, alinhada com seus talentos individuais. Posteriormente, deve haver comunicação e feedback constante, pois em ambientes complexos certamente haverá mudanças e elas precisar estar claras para todos. E no final, com o sucesso que certamente virá, é momento de celebrar. Apesar de todo o avanço de estudos sobre Psicologia Positiva, grande parte das organizações ainda são ambientes competitivos, agressivos e focados na crítica. Vamos valorizar mais o que está dando certo, a felicidade é contagiante.
RH - De que forma a liderança pode mensurar se o tempo de sua equipe está sendo bem empregado?
André Dametto - A base da gestão em qualquer empresa é ter claro suas metas, planos de ação e uma sistemática de medição dos indicadores. Quem construir os quatro pilares citados anteriormente, saberá quais são os papéis e as responsabilidades de cada membro da equipe, e os melhores desempenhos devem ser premiados, estimulando que bons comportamentos sejam incorporados pelo restante da equipe.
RH - Combater a ociosidade junto à equipe também passa por um trabalho comportamental?
André Dametto - Eu gosto muito do potencial do coaching para identificar as crenças individuais de cada membro da equipe. David Burns, em seu famoso livro Feeling Good, mapeou algumas crenças e rótulos que nos falamos constantemente, e que são as causas de comportamentos inadequados no dia a dia. A partir de agora, comece a se observar quando você falar frases do tipo: "Eu sempre, eu nunca, eu tenho que, eu sempre...". Em muitas generalizações como essa nos impedimos de negociar conosco mesmo e com as outras pessoas soluções criativas para gerenciar melhor as prioridades.
RH - Que recado o senhor daria para as pessoas que se tornaram ociosas, principalmente no ambiente de trabalho?
André Dametto - Muitas pessoas não imaginam, mas a ociosidade pode ser um fator tão estressante quanto o excesso de trabalho. A importância de se gerenciar o estresse é fazer com que o mesmo deixe de ser um desconforto, e assim evitemos que ele se transforme em casos críticos de ansiedade, depressão e burnout.
RH - Que lições podem ser colocadas em práticas, a partir dessas considerações?
André Dametto - Vamos a algumas lições aprendidas. Primeiro: identifique os primeiros sinais de que você está estressado, seja por excesso ou falta de trabalho. Isso varia de pessoa para pessoa, e o corpo possui diversos sinais de que algo não vai bem: dores de cabeça, dores musculares, resfriados, mãos frias, indigestão, dentre outros sintomas. O corpo sempre sussurra o que a mente não quer admitir. Segundo: mapeie as causas que estão levando você ao desequilíbrio. Dentre as principais, destacam-se: morte de ente querido, divórcio, mudança de residência, sentença de prisão, doença, casamento, perda do emprego, aposentadoria e até mesmo a reconciliação com o cônjuge. No trabalho, as principais causas de estresse advêm do assédio moral, tais como: colegas de trabalho inflexíveis, líderes estressados que não se gerenciam e destilam suas frustrações, ser criticado na frente dos colegas, sem contar as diversas reuniões desnecessárias e os habituais retrabalhos em ambientes sem gestão. Terceiro: saiba o que pode ser alterado por você e o que não pode. Analise o seu grau de autoridade em atuar sobre as causas do seu estresse, a perenidade de sua duração e a magnitude desse fator em relação aos diversos campos da sua vida. Muitas vezes, apenas somente essa análise já fará com que você sinta menos irritação. Quarto: pratique a assertividade, ou seja, a capacidade de fazer uma afirmação sobre algo, com segurança, e agir buscando uma negociação ganha-ganha com criatividade. Para desenvolver essa atitude, é fundamental que você esteja com a autoestima em dia, por isso o autoconhecimento, sempre ele, nunca é demais. Uma vez respeitando-se, busque sinceramente respeitar o outro, para então comunicar-se empaticamente com ele. Quinto e último: use âncoras de Gestão do Tempo, tais como: reconhecimento dos próprios talentos e valores, a priorização de tarefas, a formação de uma rede solidária que lhe apoie nos momentos críticos, e até mesmo planos de gerenciamento de crises para os casos mais críticos.
RH - E para aqueles profissionais que se desesperam, lutam contra o relógio para dar o melhor de si e mesmo assim apresentam uma performance abaixo do desejado?
André Dametto - Primeiramente eu recomendo buscarem a clareza sobre o seu próprio norte, ou seja, seu propósito de vida, e o alinhamento deste com o propósito da empresa. Eu diria que em mais da metade dos casos das pessoas com baixa performance essa é a causa do problema. Feito isso, identifiquem ações práticas e criativas para aproximar o seu trabalho dos seus talentos. Foque no desenvolvimento contínuo dos seus pontos fortes. Investir nos próprios talentos surte mais efeito que desenvolver seus pontos fracos. Investigue também que características ofuscam os seus talentos. Desenvolvê-las também pode ser uma estratégia inteligente. Todo erro é apenas uma tentativa de sucesso, e uma pequena mudança a cada dia pode facilitar todo o processo. Não são necessárias superações, mas sim um olhar mais carinhoso com nossos pontos fracos, usando as dificuldades como oportunidades de mudança. Nas adversidades residem grandes oportunidades. Como já dizia Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo", Viva seu talento, e do seu jeito, a fórmula quem cria é você.